24.11.08
Introdução
A simplicidade desse desejo é o desafio de quem oferece ao outro o conforto primitivo. O primeiro beijo do Homem é na teta da mãe, e até que não prove de outros lábios, sua busca só cessa quando abocanha, faminto, as frutas, as carnes e o pão.
Quem oferece comida, oferece amor incondicional, uma mistura de desejo maternal e vaidade, quando se põe à mesa a panela fumegante, o sentimento cresce, e o desejo é que as pessoas pulem em cima, lambendo os cantos que transbordam com o molho.
11.11.08
Ode a Cebola
Ó de ti, suprema força de todos os amores
Tua alva carne faz cegar os desavisados olhos
Teu sumo ácido faz animar os humores
Dos que querem a força de teu sabor e molho
És temida também por homens outros
Que nada sabem de teus segredos mil
Fechada em manto ora róseo ora roxo
Derrubas a moral até do mais forte e viril
Se dourada já não és mais hostil
Que o amor sem sal, o dia sem açúcar.
A vida sem ti seria pobre e vil
Ainda que para amar-te isso custa
Ceder aos encantos de teu doce-picante
Dentro da boca e de meu restante.
Soneto ao Tomate Perfeito
Pedra preciosa, rubi da flora
Fruta de meus pecados
De ti extraio o suco adocicado
E ponho na boca de meus amantes.
A volúpia de teu formato
Se pequeno o ponho todo na boca
Se grande te rasgo no prato
Tão ácido e provocante.
Vermelho sangue, tomate.
Sou sua escrava diariamente
Sem você meu mundo arde
Sempre que como a tua carne
Suculenta, sinto vontades
Por demais exuberantes.
Pé de Caqui
O que me impressionou hoje
Foi um pé de caqui
Com os cachos cheios de frutos
Frutos verde-amarelos que não comi
Não comi porque estão adstrin
Adstring, gentes
Nunca havia visto um pé
Desse caqui amarelo verde
Todos juntos num enorme galho
Há mais de um por ali
Ali, onde nascem os caquis
Impressionantes cachos cheios
Me saliva a boca
E hoje a noite vou sonhar com eles
Sonhar que estou em seus galhos
Comendo sua carne e matando a minha sede.